sábado, 21 de novembro de 2009

sábado, 7 de novembro de 2009

Entre SEU/MEU/NOSSO lugar























Algumas questões me fizeram refletir após a participação na demonstração de ...entrelugares... de Rodrigo Maia(Ex-Lia Rodrigues e ex-Dani Lima)dia 30/10 desse ano na UNIRIO no Rio de Janeiro, na escola de Teatro, Sala 604 (Centro de Letras e Artes – Av. Pasteur, 436, Fundos – Urca).
"Sendo o processo um fenômeno que descreve a ocorrência simultânea e continua de muitas relações de diferentes naturezas e escalas de tempo, salvo em condições modelares, não há como identificar seu começo ou seu fim-visto que não descrevem trajetórias de um ponto para o outro - ou sequer, distinguir precisamente quais os termos envolvidos". (BRITTO, 2008, p.13).
Inicialmente tomando parte como videomaker coloquei meu corpo nessa ação/criação como alguém que gostaria de ver sob outra perspectiva ou como oferecedora de outra perspectiva.Quando ele(Rodrigo) me diz: O que me importa é realmente sua visão!Na verdade trata-se de uma colocação/pensamento que quando nos propomos a filmar o que realmente importa é a nossa visão tendenciosa.Naquele momento com a máquina na mão pensando enquanto processo é muito motivador, senti um certo aperto no coração em alguns momentos ao perceber (não sou videomaker)que não podia captar tudo que queria e nem podia, mesmo que estivesse sem a máquina não poderia.Estar ali com o público compartilhando de forma diferenciada tinha um caráter muito especial, um exercício de sensibilidade, como também participar de uma idéia e intuitivamente captar momentos com os quais eu levaria para sempre para mim, muito instigante!
Uma coisa me afetou bastante, a imagem dele ali, sozinho, com um colar de pregos,semi-nú,chupetas coloridas no chão e água.Parece muito interessante também a cena do pano na frente do sexo, lembrando uma fralda, ou um feto sendo abortado, não sei..........Imagens que se localizam como desmembramentos das ações, significados e como colaboradoras de uma sensação de isolamento que a performance me ressoou.Tudo muito significativo.
“Ao entender que corpos são imagens em composição, e que suas configurações são acontecimentos que se transformam e se organizam constantemente, inclusive na forma de gírias do corpo e do ambiente se apresentam como texto em acordo com o contexto”(MACHADO, 2007, p.12)
Diante dessa imagem, pude sentir naquele momento uma certa tensão/ação do público com o colar de pregos, na cena da movimentação pélvica e o som como possíveis proposições para algo que estava sendo exposto(no final do debate um espectador fez um comentário do prego).Eu na minha tensão em capturar os melhores ângulos não perdia um momento sequer do processo composicional de Rodrigo, já imbricado nas “minhas” novas imagens."O processamento sensorial associa sensação à emoção"(Katz,2005, p.57).
A dança de Rodrigo é improvisada, parece estar situada em conexão com a teoria corpomídia(Katz e Greiner, 2005). Seu corpo em fluxo transitório e contínuo, dialoga no espaço-tempo real com as informações e trocas geradas pelos olhares,corpos, objetos e ruídos na sala.Me coloco como observadora e já diretamente implicada na performance apresentada, construindo uma relação de tessitura de possibilidades imagéticas para quem nos assite e para quem capta as cenas.
Para refletir sobre esse ato observador recorro à citação de Maturana(2001,p.27), “Quem é o observador?...(..)Por isso, eu digo, o ser humano é observador na experiência, ou no suceder do viver na linguagem”.Enfim, observadores diferentes , entendimentos diferentes que compõe essa ação performática.Um percurso que compõe um sentido transitório de informações em cada olhar presente na demonstração.

Assim, refletindo sobre a observação que Rodrigo me colocou: Saibam que ele me fez pensar um bocado sobre o quanto nos importamos com o registro das coisas................!Depois da demonstração fiquei um pouco ansiosa para conversar como Rodrigo.Recebi seu e-mail super lindo e falei do que percebi e estou esperando resposta.Em alguns momentos suas questões me fazem lembrar de uma frase de Prigogine(1996, p.65): “Estrutura e função são inseparáveis”. Assim, nós artistas atuantes e pessoas/ registro, não somente a filmadora/máquina mas....... pessoas, afetos.
...entrelugares... me fez pensar em questões como corpo que co-atua, relação espectador e obra, registro e não registro, atenção e intenção, participação/co-adequação, preparação/ação.
Estratégias de elaboração como informações que se constituem como coreografias em que corpo e ambiente se ajustam para se tornar presentes.Nessa caso o corpo se encontra em estado de trânsito como mediador de informações, um corpomente assim mesmo, junto e estrategicamente conectado.


*PS: Importante ressaltar, a filmadora estava sem mídia, fiz o processo participativo/videográfico com a emoção de quem estava captando as melhores imagens, no final ele me confirmou que esqueceu de trazer/comprar.Não me decepcionei, fiquei pensando somente nas belas imagens que registrei e que se eternizarão na minha mente, somente sob minha perspectiva..............

Referências Bibliográficas:

BRITTO, Fabiana Dultra. Paisagens do corpo. In: Corpo e ambiente. Co-determinações em processo. Cadernos PPGAU/FAUFBA, Salvador: EDUFBA, v. 1, 2008.
KATZ, Helena. Um, Dois, Três. A dança é o pensamento do corpo. Belo Horizonte: FID, 2005.
KATZ, Helena; Greiner, Christine. Por uma teoria do corpomídia. In: ______. O corpo: pistas para estudos interdisciplinares. São Paulo: Annablume, 2005.
MACHADO, Adriana B. O Papel das imagens nos processos de comunicação: ações do corpo, ações no corpo. 2007. Tese (Doutorado) – PUC, São Paulo.
MATURANA R.,Humberto.Cognição, ciência e vida cotidiana.Belo Horizonte:Ed. UFMG, 2001
PRIGOGINE, Ilya.O fim das certezas.Tempo, caos e as leis da natureza. São Paulo: Editora da Universidade Estadual Paulista, 1996.


Autora do Texto:
Iara Cerqueira
Mestranda em Dança,Diretora e Coreógrafa do HIS contemporâneo,Bailarina do Grupo X de Improvisação,Professora do Projeto corpoacorpo/somar e Instrutora de Pilates.

domingo, 25 de outubro de 2009

Corpografando poesias.Estudo 1






Mar a vista

Pela primeira vez

Eu descobri

Você

Quando te vi

Me perdi

Não se vista

Foi um mar a vista

Foi a primeira

Foi amar a primeira vista


Edú Ó.
É dançarino, artista plástico e arteterapeuta

domingo, 30 de agosto de 2009

Construindo , refletindo ou ......................{nada a fazer}


Como descre (ver) um fazer radiográfico sobre experiências que ainda não se consumaram.

WorKshop de Aroldo Fernandes, Largo 2 de Julho/ Salvador-Bahia, agosto de 2009. Eu começo falando de um lugar que naturalmente é muito familiar.Dançarina.Meu olhar reflexivo aponta nuances que no decorrer do processo percebo um outro lugar, o de professora e estudante de mestrado em dança.
Cautelosamente e muito zeloso , Aroldo conduz seus estudos de forma consciente e didática, reforçando seus conhecimentos adquiridos em seu voluntário exílio nos EUA aos já existentes aqui em nossa terra brasilis.Indicações e novas informações vão sendo sugeridas. Esse exercício de informações que tem o corpo como meio, sendo resultado desses cruzamentos e não um lugar em que simplesmente as informações são abrigadas, é nada menos que a teoria corpomídia.Uma teoria inteligentemente desenvolvida por Helena Katz e Christine Greiner (2005) e que se torna um aporte teórico atualmente em discussões sobre corpo.
Não tem como se fazer/escrever dança sem um referencial que nos embase cientificamente, pode-se ver isso claramente em todas as produções que participo.Seja numa simples discussão processual, numa escrita, workshop ou até mesmo como espectadora de Um Alemão chamado Severino de Giltanei Amorim.
Colocando-me somente como espectadora, encontrei em Bauman uma referência para explicar esse tempo acelerado e o espaço comprimido, que pude perceber nessa instalação.Não sou crítica de dança, prefiro fazer um exercício de aproximações, claro que o afeto tem seu lugar nessa minha fala, que como artista não destituo minha responsabilidade de curiosa que me move, mas quero salientar que tanto Aroldo como Giltanei(GIL) são exemplos de estudiosos em que não desenvolvem seus estudos de corpo interlocutados com metáforas e analogias como recurso explicativo, mas como equivalência de interações para promover uma contextualização sobre o que chamo de encontro informativo, em que o corpo é pensado correlacionando-se.
Segundo Fabiana Britto “Cada corpo constrói uma dança própria que no entanto, é relativa ao conjunto de conhecimentos disponibilizados em cada circunstância histórica e aos padrões associativos que o corpo desenvolve para estabelecer as suas correlações com o mundo – outros corpos, outras danças, outros conhecimentos” (2008, p. 30).
Como falar, descrever e se pronunciar sem citar tal referencias que são históricas, familiares e profissionais?Fabiana, Aroldo, Helena, Bauman e tantos outros que apesar de discorrem sobre temas comuns outros tantos diversos, se encontram em um ponto comum chamado corpo.
Esse ano, participo, participei e continuo a participar(minha rotina desde os 10 anos de idade) de vários encontros artísticos. Experiências se encontram nesse estado percepção, como a mini-residência que participei de Marcelo Evelin(2009)) e a apresentação no Gamboa Nova, com o Estudo para carne, água e osso(GrupoHIS).Mas para quem não participou o que tem isso em comum, trata-se de mas um devaneio artístico? NÃO.
Marcelo,Adriana, Fabiana, Aroldo, Bauman,Giltanei e outros tantos , assim como Estudo para carne, água e osso, me contaminaram.Deixaram marcas em meu corpo, assim como o filme A lista de Schindler (não sei se é assim que escreve).Engraçado, só lembrando....... como nós ao citarmos um filme em que alguns não conseguem entender simplesmente dizem que não gostam, assim como em dança. Falta um pouco de silêncio na maioria das pessoas , um espaço tempo de reflexão, de escuta.
Pausar, refletir, analisar, onde se encontram esses momentos?Hoje me lembro de duas ocasiões, quando fiz uma aula com Bill T. Jones, ainda como estudante de dança da UFBa, em que ele não falava praticamente nada, se colocava e nós o acompanhávamos, olhando, percebendo, dando continuidade ao seu pensamento e na aula de mestrado aluna de Ivani Santana, querendo ouvir Antrifo Sanches discorrer sobre o capitulo 1- O Mito da formiga-rainha, em Emergência de Steven Johnson.
Bem, voltando à contaminação que aconteceu comigo pelas trocas informativas que foram geradas durante essas ações artísticas (inclusive nas aulas), vale ressaltar na apresentação de Estudo para carne, água e osso em que chego literalmente a um ponto de sufocamento (citação de Sandra Corradini, em Estudo para Carne, água e osso). Nessa apresentação,meu estado de corpo se deteriora, se desfalece e comprime. Uso metáforas para me exprimir,me comunicar, me fazer entender.Uma tentativa correlacional de investigação compositiva.Antonio Damásio discorre muito bem, sobre essa mudança/processo de estado corporal em seu livro O Erro de Descartes.
Todas as experiências colaborativas, partilhando de um lugar comum, outras nem tanto, são capazes de criar procedimentos em relação caráter experimentalista que permeia essas apresentações que participei.Nas experiências cooperativas, sendo algumas sem espaço delimitado e indicações de início e fim, encontro-me ali, em algum lugar, sozinha talvez, porém não construo, nem experimento sem interagir, mas reflito sobre a real necessidade de pausar, refletir,dividir para construir, exercitando nossa presença sobre múltiplos pontos de vista, ou seja como utilizarmos nossa gama de possibilidades tridimensionais.Um exercício constante.
Parece que o exercício de refletir sobre o que está sendo construído/estudado foi se imbricando em meu corpo, como um trabalho continuado que aprendi como instrução, indicação, tornando-se uno como um diálogo afinado e experiente, sabendo o real momento de interagir como instrumento agenciador de informações na produção de conhecimento sobre dança.

Iara Cerqueira
Bailarina, Professora.Mestranda em Dança pelo PPGDança.Diretora do HIS Contemporâneo, Instrutora de Pilates.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
BRITTO, Fabiana Dultra. Temporalidade em dança: parâmetros para uma história contemporânea.Belo Horizonte: Fabiana Dultra Britto, 2008.
KATZ, Helena Tania. Um, Dois, Três. A dança é o pensamento do corpo.Belo Horizonte: Fabiana Dultra Britto, 2008.
POPPER, Karl R.O cerébro e o pensamento. Campinas, SP: Papirus, 1992.
SANTOS, Boaventura de Souza. Um discurso sobre as ciências.São Paulo: Cortez, 2009

domingo, 16 de agosto de 2009

Quel tal um flash mobs?


"... A senhora me desculpe, mas no momento não tenho muita certeza. Quer dizer, eu sei quem eu era quando acordei hoje de manhã, mas já mudei uma porção de vezes desde que isso aconteceu. (...) Receio que não possa me explicar, Dona Lagarta, porque é justamente aí que está o problema. Posso explicar uma porção de coisas mas não posso explicar a mim mesma..."

Alice no País das Maravilhas


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terça-feira, 11 de agosto de 2009

Dasabafográfico!UMA REALIDADE CONSTANTE/AFLITANTE/DESCONCERTANTE




Carta à comissão julgadora dos editais culturais,



Esse negócio de Justificativa em projeto é complicado, viu? Cada um vai escrever maravilhas do porque você escolher o seu projeto e não o meu, por exemplo. Eu também poderia fazer a mesma coisa, mas não sei como tentar te convencer a bancar o meu projeto, sem parecer apelativo e sem cair no discurso convencional que permeia os projetos que contemplam pessoas com deficiência? Eu não saberei convencê-lo. Esse discurso eu não saberia fazer, mas é isso é o que você gostaria de ler? Se eu não colocar isso você entenderia? Como você receberia uma coisa que diz tanto de mim? Que me é tão importante? Que penso ser algo interessante ao outro também?

Cheguei aqui na Justificativa e travei. Travei para tudo! Não consegui nem mais escrever as cenas que estavam idealizadas. O meu subjetivou evaporou quando tive que objetivá-lo. Entrei em crise.

Pensei em falar que é importante patrocinar um projeto ousado, onde uma pessoa que tem um corpo excluído de todas as formas de mídia e esquecido pele senso comum quer expô-lo em praça pública e afirmar que tem muito mais gente interessada em seu corpo do que pensa a média da população.

Mas importante, importante mesmo não é matar a fome, dar educação, comida e condições dignas de vida? Então, minha justificativa vai por água abaixo e eu morro de vergonha. Por outro lado, eu posso te conquistar dizendo que é através dos meus projetos e obras que eu ganho a vida, que eu posso tentar uma vida confortável e ter um trocado para comer. Isso justificaria?

Ou então poderia partir para o discurso da acessibilidade que o próprio governo e MINC vem alardeando, confirmar o interesse crescente da população em projetos com abordagem similar, registrar minha participação em eventos relevantes da arte contemporânea mas como convencer a quem vai ler de que o meu projeto tem valor? Estas pessoas não conhecem meus trabalhos desenvolvidos, nem se interessam muito em ver o que fazemos, todos já tem seus grupos de preferência e o novo tanto faz. Devem ter em mente alguma cena do Criança Esperança, de resultados positivos, demonstrados no pátio da instituição ao som de “você é meu amigo de fé, meu irmão camarada”.

Estou desesperado, por favor, me diga o que poderia falar aqui para justificar ganhar este edital. O tempo é curto, preciso ainda fazer cotação orçamentária, imprimir, pegar documentos dos parceiros, enfim, uma trabalheira danada, mas você poderia me poupar disso tudo se dissesse que meus argumentos te fariam ler com atenção o meu projeto ou não.

AUTOR:EDÚ Ó.
Diretor e bailarino do GRUPO X DE IMPROVISAÇÃO EM DANÇA.Artista plástico e arteterapeuta. Em suas madrugadas costumava escrever textos e por esse motivo resolveu publica-los no espaço http://monologosnamadrugada.blogspot.com/.