quinta-feira, 11 de junho de 2009

6 de Junho de 2009. Interacao e conectividade proposto pelo Dimenti. Humor-Corpo-Politica.



As 10 da manha 17 corpos foram deixados no Corredor da Vitoria, nas calcadas, meio-fios, no asfalto, em portas de lojas, bancas de jornal, hoteis de luxo, no cruzamento, na porta das mansões.

Foram dois sets de 9 e 8 interpretes ocupando todo o percurso e modificando a manha daquele corredor de Salvador, cidade que parece ter inventado o corredor no Carnaval, corredor de gente, passagem estreita, conectividade pensada em termos mais abrangentes.

Em contradicao ao espetaculo tradicional de sala, onde toda a acao e atencao esta voltada para o palco e o interprete, aqui o espectador desprevenido ganha o foco, passa a ser o agente da acao, o desdobrador do conteudo, reafirmando a acao do corpo.

A ideia de exposicao, fragilidade e abandono do interprete parece se instalar no corpo e deixar ver ao mesmo tempo a forca, o resistir, o se posicionar, a tal latencia da qual tanto falam os filosofos.

Corpos que lutam em suas lutas silenciosas, veladas, lutas que escapam ao controle ou ao querer, lutas que sao travadas no, com e pelo corpo.

O relevo se amplia e se abstrai.
Corpos entre Significacao e Sentido.
A manha corre, o movimento solto,
nas idas e vindas a lugar nenhum.

Uma mulher foi deixada na porta de um hotel de luxo. Com um vestido de papel de embrulho.

Um homem se bate contra a parede em movimentos circulares com uma mochila nas costas.
Os vizinhos se preocupam, um vigilante observa, um carro para e chama a policia.

Um homem negro de corpo escultural "corre no lugar" na frente do Museu de Arte da Bahia.
Uma hora de insistencia numa corrida que nao sai do lugar, a obra nao escapa ao Museu.
No final pousa na enorme porta de madeira entalhada a mao e o corpo lavado de suor.

Um homem mexe as maos convulsivamente frente a um tapume de construcao.
Faz suar o corpo para imprimi-lo na madeira negra.

Um homem foi esquecido na frente de um predio chic, do lado de uma delicatesse.
Alguem quer levar pra casa?

Uma mulher penteia os cabelos do corpo na frente de um salao de beleza.
Bem Bonita.
Lhe oferecem uma escova, quem sabe ate uma escova inteligente.

Uma mulher e' esquecida ajoelhada de branco na frente de uma igreja branca.
Vestida de papel de seda, tremula.

Uma mulher sopra baloes verde e amarelo em um cruzamento, entre o Macdonald's e um Posto Shell.
Prende a respiracao, rodopia e cai.

Um homem move vagarosamente as pernas e bracos sem nunca deixa-los tocar o chao. Esta deitado no asfalto, proximo ao transito de carros, com uma fralda de papel de seda branco.
Sua forca abdominal foi elogiada por um guardador de carro vestido em uma camiseta que dizia "quem e' feliz malha!".





MARCELO EVELIN PI/HO

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