sábado, 7 de novembro de 2009

Entre SEU/MEU/NOSSO lugar























Algumas questões me fizeram refletir após a participação na demonstração de ...entrelugares... de Rodrigo Maia(Ex-Lia Rodrigues e ex-Dani Lima)dia 30/10 desse ano na UNIRIO no Rio de Janeiro, na escola de Teatro, Sala 604 (Centro de Letras e Artes – Av. Pasteur, 436, Fundos – Urca).
"Sendo o processo um fenômeno que descreve a ocorrência simultânea e continua de muitas relações de diferentes naturezas e escalas de tempo, salvo em condições modelares, não há como identificar seu começo ou seu fim-visto que não descrevem trajetórias de um ponto para o outro - ou sequer, distinguir precisamente quais os termos envolvidos". (BRITTO, 2008, p.13).
Inicialmente tomando parte como videomaker coloquei meu corpo nessa ação/criação como alguém que gostaria de ver sob outra perspectiva ou como oferecedora de outra perspectiva.Quando ele(Rodrigo) me diz: O que me importa é realmente sua visão!Na verdade trata-se de uma colocação/pensamento que quando nos propomos a filmar o que realmente importa é a nossa visão tendenciosa.Naquele momento com a máquina na mão pensando enquanto processo é muito motivador, senti um certo aperto no coração em alguns momentos ao perceber (não sou videomaker)que não podia captar tudo que queria e nem podia, mesmo que estivesse sem a máquina não poderia.Estar ali com o público compartilhando de forma diferenciada tinha um caráter muito especial, um exercício de sensibilidade, como também participar de uma idéia e intuitivamente captar momentos com os quais eu levaria para sempre para mim, muito instigante!
Uma coisa me afetou bastante, a imagem dele ali, sozinho, com um colar de pregos,semi-nú,chupetas coloridas no chão e água.Parece muito interessante também a cena do pano na frente do sexo, lembrando uma fralda, ou um feto sendo abortado, não sei..........Imagens que se localizam como desmembramentos das ações, significados e como colaboradoras de uma sensação de isolamento que a performance me ressoou.Tudo muito significativo.
“Ao entender que corpos são imagens em composição, e que suas configurações são acontecimentos que se transformam e se organizam constantemente, inclusive na forma de gírias do corpo e do ambiente se apresentam como texto em acordo com o contexto”(MACHADO, 2007, p.12)
Diante dessa imagem, pude sentir naquele momento uma certa tensão/ação do público com o colar de pregos, na cena da movimentação pélvica e o som como possíveis proposições para algo que estava sendo exposto(no final do debate um espectador fez um comentário do prego).Eu na minha tensão em capturar os melhores ângulos não perdia um momento sequer do processo composicional de Rodrigo, já imbricado nas “minhas” novas imagens."O processamento sensorial associa sensação à emoção"(Katz,2005, p.57).
A dança de Rodrigo é improvisada, parece estar situada em conexão com a teoria corpomídia(Katz e Greiner, 2005). Seu corpo em fluxo transitório e contínuo, dialoga no espaço-tempo real com as informações e trocas geradas pelos olhares,corpos, objetos e ruídos na sala.Me coloco como observadora e já diretamente implicada na performance apresentada, construindo uma relação de tessitura de possibilidades imagéticas para quem nos assite e para quem capta as cenas.
Para refletir sobre esse ato observador recorro à citação de Maturana(2001,p.27), “Quem é o observador?...(..)Por isso, eu digo, o ser humano é observador na experiência, ou no suceder do viver na linguagem”.Enfim, observadores diferentes , entendimentos diferentes que compõe essa ação performática.Um percurso que compõe um sentido transitório de informações em cada olhar presente na demonstração.

Assim, refletindo sobre a observação que Rodrigo me colocou: Saibam que ele me fez pensar um bocado sobre o quanto nos importamos com o registro das coisas................!Depois da demonstração fiquei um pouco ansiosa para conversar como Rodrigo.Recebi seu e-mail super lindo e falei do que percebi e estou esperando resposta.Em alguns momentos suas questões me fazem lembrar de uma frase de Prigogine(1996, p.65): “Estrutura e função são inseparáveis”. Assim, nós artistas atuantes e pessoas/ registro, não somente a filmadora/máquina mas....... pessoas, afetos.
...entrelugares... me fez pensar em questões como corpo que co-atua, relação espectador e obra, registro e não registro, atenção e intenção, participação/co-adequação, preparação/ação.
Estratégias de elaboração como informações que se constituem como coreografias em que corpo e ambiente se ajustam para se tornar presentes.Nessa caso o corpo se encontra em estado de trânsito como mediador de informações, um corpomente assim mesmo, junto e estrategicamente conectado.


*PS: Importante ressaltar, a filmadora estava sem mídia, fiz o processo participativo/videográfico com a emoção de quem estava captando as melhores imagens, no final ele me confirmou que esqueceu de trazer/comprar.Não me decepcionei, fiquei pensando somente nas belas imagens que registrei e que se eternizarão na minha mente, somente sob minha perspectiva..............

Referências Bibliográficas:

BRITTO, Fabiana Dultra. Paisagens do corpo. In: Corpo e ambiente. Co-determinações em processo. Cadernos PPGAU/FAUFBA, Salvador: EDUFBA, v. 1, 2008.
KATZ, Helena. Um, Dois, Três. A dança é o pensamento do corpo. Belo Horizonte: FID, 2005.
KATZ, Helena; Greiner, Christine. Por uma teoria do corpomídia. In: ______. O corpo: pistas para estudos interdisciplinares. São Paulo: Annablume, 2005.
MACHADO, Adriana B. O Papel das imagens nos processos de comunicação: ações do corpo, ações no corpo. 2007. Tese (Doutorado) – PUC, São Paulo.
MATURANA R.,Humberto.Cognição, ciência e vida cotidiana.Belo Horizonte:Ed. UFMG, 2001
PRIGOGINE, Ilya.O fim das certezas.Tempo, caos e as leis da natureza. São Paulo: Editora da Universidade Estadual Paulista, 1996.


Autora do Texto:
Iara Cerqueira
Mestranda em Dança,Diretora e Coreógrafa do HIS contemporâneo,Bailarina do Grupo X de Improvisação,Professora do Projeto corpoacorpo/somar e Instrutora de Pilates.

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