terça-feira, 11 de agosto de 2009

Dasabafográfico!UMA REALIDADE CONSTANTE/AFLITANTE/DESCONCERTANTE




Carta à comissão julgadora dos editais culturais,



Esse negócio de Justificativa em projeto é complicado, viu? Cada um vai escrever maravilhas do porque você escolher o seu projeto e não o meu, por exemplo. Eu também poderia fazer a mesma coisa, mas não sei como tentar te convencer a bancar o meu projeto, sem parecer apelativo e sem cair no discurso convencional que permeia os projetos que contemplam pessoas com deficiência? Eu não saberei convencê-lo. Esse discurso eu não saberia fazer, mas é isso é o que você gostaria de ler? Se eu não colocar isso você entenderia? Como você receberia uma coisa que diz tanto de mim? Que me é tão importante? Que penso ser algo interessante ao outro também?

Cheguei aqui na Justificativa e travei. Travei para tudo! Não consegui nem mais escrever as cenas que estavam idealizadas. O meu subjetivou evaporou quando tive que objetivá-lo. Entrei em crise.

Pensei em falar que é importante patrocinar um projeto ousado, onde uma pessoa que tem um corpo excluído de todas as formas de mídia e esquecido pele senso comum quer expô-lo em praça pública e afirmar que tem muito mais gente interessada em seu corpo do que pensa a média da população.

Mas importante, importante mesmo não é matar a fome, dar educação, comida e condições dignas de vida? Então, minha justificativa vai por água abaixo e eu morro de vergonha. Por outro lado, eu posso te conquistar dizendo que é através dos meus projetos e obras que eu ganho a vida, que eu posso tentar uma vida confortável e ter um trocado para comer. Isso justificaria?

Ou então poderia partir para o discurso da acessibilidade que o próprio governo e MINC vem alardeando, confirmar o interesse crescente da população em projetos com abordagem similar, registrar minha participação em eventos relevantes da arte contemporânea mas como convencer a quem vai ler de que o meu projeto tem valor? Estas pessoas não conhecem meus trabalhos desenvolvidos, nem se interessam muito em ver o que fazemos, todos já tem seus grupos de preferência e o novo tanto faz. Devem ter em mente alguma cena do Criança Esperança, de resultados positivos, demonstrados no pátio da instituição ao som de “você é meu amigo de fé, meu irmão camarada”.

Estou desesperado, por favor, me diga o que poderia falar aqui para justificar ganhar este edital. O tempo é curto, preciso ainda fazer cotação orçamentária, imprimir, pegar documentos dos parceiros, enfim, uma trabalheira danada, mas você poderia me poupar disso tudo se dissesse que meus argumentos te fariam ler com atenção o meu projeto ou não.

AUTOR:EDÚ Ó.
Diretor e bailarino do GRUPO X DE IMPROVISAÇÃO EM DANÇA.Artista plástico e arteterapeuta. Em suas madrugadas costumava escrever textos e por esse motivo resolveu publica-los no espaço http://monologosnamadrugada.blogspot.com/.

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